sábado, 29 de julho de 2017


“Listas” e responsabilidades

O alarido à volta da "lista" das pessoas que faleceram nos (por causa dos) incêndios de Pedrógão Grande tem sido repugnante. Essencialmente, pela falta de respeito pelas pessoas: pelas vítimas, na sua memória; pelos familiares e amigos, no seu luto.

Apesar disso e de a lista ter sido divulgada pelo MP, pondo fim (?) ao alarido, a situação pode-nos ter trazido qualquer coisa de "positivo". Ao alertar-nos para:

- Uma Oposição que, à míngua de incidir na (pela) Política (com maiúscula), enveredou pela insinuação mentirosa (que é aquilo em que, objectivamente, se transforma uma insinuação infundada), em (meros) "casos" e, neste caso, raiando a falta de vergonha político-partidária;

- Um certo jornalismo em que, cada vez mais, a falta de isenção, o “opinialismo” tendencioso (descarado ou disfarçado), o sensacionalismo e, até, a boçalidade são inversamente proporcionais à Comunicação Social (Social) que (não) faz e a que nós, como cidadãos e como pessoas, temos (constitucionalmente) direito.

Isto não quer dizer que se seja contra o apuramento (e divulgação pública, claro) de responsabilidades (por acção e ou omissão) pelo (no) que aconteceu em Pedrógão Grande e não só. Contudo, tal apuramento exige nele a completa contextualização e aprofundamento.

É que se bem que em menor dimensão, não foi só em Pedrógão Grande que morreram pessoas por causa dos incêndios (por exemplo, para não ir mais longe, em 2013, oito bombeiros);

Depois, a sermos nisso totalmente rigorosos, talvez tenhamos que retroceder até D. João I: "Em caso que algum fogo levantasse, o que Deus não queira, que todos os carpinteiros e calafates venham aquele lugar, cada um com o seu machado, para haverem de atalho o dito fogo" (Carta Régia de 23/8/1395).e saber por que é que tal “DECIF” de há 600 anos era eficaz e a parafernália gigantesca do de agora não é.

Ou então, sendo mais "pragmáticos" e "tolerantes" (mas talvez mais eficazes), podemos ir pelo menos (não tenho nada contra em que se recue mais...) até 2013, em que uma tal Maria da Assunção Cristas e um tal Pedro Passos Coelho assinaram o Decreto-Lei 96/2013, de 19 de Julho, que liberalizou a plantação (inclusive, objectivamente, a esmo) do eucalipto.

Ou, vá lá, até 2006, em que um tal Jaime Silva e um tal José Sócrates, assinaram o Decreto-Lei Nº 22/2006, de 2 de Fevereiro, que extinguiu o Corpo de Guardas Florestais.

Vamos, então, também a essa (outra) "lista", a de responsabilidades / responsáveis.

Pelo menos, à “lista” dos(as) vivos(as).

João Fraga de Oliveira

(enviado ao Público e ao Expresso em 26/7/2017 – não foi publicado, como, aliás, anteriores textos)

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