O estado da Nação e a palavra
boomerang
“Já
há portugueses a sair da crise”; “O país está melhor. As pessoas começam a
sentir mais futuro e mais esperança”. Reproduzo a comunicação social que, em
2/7/2014 (dia do debate sobre “o estado da Nação”), assim citou o líder
parlamentar do PSD, Sr. Luís Montenegro.
Como
assim se, há poucos meses (21/2/2014), o mesmo deputado dizia que, apesar de o
país “estar melhor”, “a vida das pessoas não está melhor”?
Como
assim se o que o que os portugueses, as pessoas sentem (e vivem) é: menos
direitos laborais; menos protecção social (menos CSI, menos RSI, menos subsídio
de desemprego, menos abono de família); mais emigração forçada; mais desemprego
real, ainda que escondido em “menos” desemprego estatístico assente na
emigração, nos “mini-estágios”, na formação para “empatar”, em mais subemprego
(precariedade, falsos “recibos verdes”, baixos salários, condições de trabalho
desreguladas e degradadas) e mais sobretrabalho (sobreintensificação do
trabalho em ritmo e duração); menos acesso e qualidade nos Serviços Públicos
(mormente Saúde, Educação, Segurança Social e Justiça) e nos serviços
essenciais?
Como
assim se as pessoas se sentem (e vivem) mais pobres (dois milhões mesmo abaixo
do respectivo limiar, ainda que com transferências sociais)?
Mas,
por certo prisma, talvez o Sr. Montenegro tenha razão. Pois, se os portugueses estão
a empobrecer (económica, profissional, cultural, socialmente), então é “natural”
que “já haja portugueses a sair da crise”. Não proclamou o Sr.
primeiro-ministro (PM), em 25/10/2011, que “só vamos sair da crise
empobrecendo”?
Aliás,
sabe-se lá se o Sr. Montenegro não estará a ver as coisas “de forma muito
clara”. É que, de facto, “há portugueses a sair da crise”. Mais, como é natural
num país que é cada vez mais “campeão” europeu das desigualdades sociais
(garantem-no o INE e a OCDE), há mesmo alguns portugueses que, desacreditando a
“arte de governar” do PM, estão a sair da crise enriquecendo. Por exemplo, os
portugueses detentores de grandes fortunas (cujo património aumentou em 2012 e
2013) e os accionistas das grandes empresas, cujos dividendos aumentaram com o
“combate à crise” através da diminuição, habilidosamente “cirúrgica”, do IRC.
Conclusão:
O “estado da Nação” irá sempre de mal a pior quando, para quem faz “política”
(e, ainda mais, para quem“ governa”) com base na mentira, cada palavra é um boomerang.
João Fraga de Oliveira
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