“Assim como o mandamento não matar põe um limite claro para assegurar o valor da vida
humana, assim também hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da
desigualdade social’. Esta economia mata.
(…) O ser humano é considerado como um bem de consumo que se pode usar e
deitar fora”. (Papa Francisco, Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho, Novembro de 2013).
“As
citações são como bandidos de berma da estrada que repentinamente surgem
armados e tomam de assalto as convicções dos passantes.” (Walter Benjamim, in Rua de Sentido Único e Outros Escritos,
1928).
“Passante”
quotidiano do (no) Público e nele, sempre, dos artigos de Frei Bento Domingues,
as minhas convicções foram, no domingo (13/7/2014 – terceiro artigo da série Que trouxe de novo o Papa Francisco),
“(re)assaltadas” por aquela sua citação do “argentino”.
Eu
próprio me arrisco a “assaltar” as convicções dos leitores, citando, desse
artigo, o seu autor: “A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que,
na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do
ser humano”.
Aliás,
esta citação de Frei Bento Domingues talvez até seja um segundo “assalto” a
arreigadas convicções dos leitores, visto que – presumo – há muito que, nesse
domínio, elas terão sido “assaltadas” por aquela antropocêntrica citação de há
2.500 anos: “O homem é a medida de todas as coisas…” (Protágoras). Ou por
aquela, mais recente e escrita cá no “país”, no início do século passado:
“Eliminem a palavra Humanidade e ficaremos cobertos de pêlo, num instante”
(Teixeira de Pascoaes, in “Aforismos”, selecção de Mário Cesariny, 1998).
Reconheço
que talvez também “continue com o quadro mental posicionado para voltar a repetir
as asneiras feitas no passado" (Sr. Vítor Bento, Junho de 2014), pois que,
(também) com esta mania das citações, continuo a “viver muito acima das possibilidades”
(idem, Junho de 2005). Isto na medida em que “citar com abundância corresponde
a malbaratar fortuna alheia” (Carlos Drummond de Andrade, in O Avesso das Coisas, 1987).
Mas,
enfim, não resisto ao “assalto” de muitas (nem todas, claro) citações, até por
influência de uma delas, “pragmática”, de há cerca de 2.000 anos: “O que quer
que um outro disser bem, é meu” (Séneca).
E
assim fico convictamente mais forte contra certos “bandidos da berma da
estrada” que agora, em 2014, “estão a tomar de assalto as convicções”, a
esperança, os direitos e até as vidas dos portugueses. Por exemplo, citações (ou
melhor, o que social e “politicamente” lhes subjaz) como estas:
“O
país está melhor”. “A vida das pessoas não está melhor mas a do país está muito
melhor”. (Primeiro-ministro Sr. Pedro Passos Coelho e líder parlamentar do PSD,
Sr. Luís Montenegro, 21/2/2014).
Fim
de citação(ões).
J. Fraga de Oliveira
(In
jornal PÚBLICO, domingo, 20/7/2014 – pag. 51)
Sem comentários:
Enviar um comentário